Cibercultura e cultura de convergência: André Lemos e Henry Jenkins

“Há uma vida na técnica e não o deserto técnico do real”

                                                                       André Lemos (2013)


A cibercultura, de André Lemos, pode ser definida com a forma sociocultural resultante da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias. A cibercultura estabeleceu-se pela emergência das novas formas sociais (que se vem desenvolvendo desde a década de 1960 – época também designada pela sociabilidade pós-moderna) e das novas tecnologias digitais. É uma consequência direta da evolução da cultura técnica moderna. Como Lemos (2013) afirma “a cibercultura é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Vivemos já a cibercultura” [3].

A cibercultura tem as suas origens na ligação da tecnologia com a modernidade, com o projeto racionalista-iluminista. A cibercultura pode ser vista como uma atualização do conceito da essência da técnica moderna, de Heidegger, focando-se agora na transformação do mundo em dados binários para futura manipulação humana (simulação, interatividade, genoma humano, engenharia estética, etc). “Se a modernidade pode ser caracterizada como uma forma de apropriação técnica do social, a cibercultura será marcada, não de modo irreversível, por diversas formas de apropriação social-midiática (micro-informática, internet, e as atuais práticas sociais […]) da técnica” [3].

Com a nova técnica-social da cibercultura é criada uma estrutura impar, pela primeira vez na história da humanidade “qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta” [3]. A forma técnica da cibercultura permite assim a ampliação das formas de ação e comunicação mundial. Seguindo esta linha de pensamento “a rede é tudo e tudo está na rede” [3].

Entramos desta forma na cultura de convergência de Henry Jenkins (2006) [1]. Já mencionamos no post anterior que para Jenkins, a convergência representa uma transformação cultural, onde os consumidores são incentivados a procurar novas conexões entre conteúdos mediáticos dispersos.

Os consumidores abandonam a antiga passividade face aos meios de comunicação, entrando numa cultura participativa, onde os papéis dos produtores e dos consumidores se confundem. O produtor e o consumidor são ambos participantes e interagem de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum conhece por completo. A convergência dos media é mais do que apenas uma mudança tecnológica, é uma alteração à forma como a cultura mediática opera e como os consumidores processam a notícia e o entretimento.

Mas Pierre Levy (1997) e André Lemos (2013) [3] alertam para um problema: há uma exclusão digital, “não há uma mídia totalmente democrática e universal (a mídia impressa é lida por uma minoria e metade da população mundial nunca utilizou um telefone)”.

A cibercultura traz consigo inúmeras práticas comunicacionais e algumas são “verdadeiramente inéditas”[3]. Quanto a isto escrevem tanto Henry Jenkins como André Lemos. Henry Jenkins [1] explica que os velhos meios de comunicação não vão morrer, o que está a mudar são as suas funções e status, com a introdução das novas tecnologias. E o autor aproveita a explicação para relacioná-la com a cultura da convergência que considera mais adequada do que a revolução digital para explicar os meios de comunicação na última década. André Lemos acrescenta que “trata-se aqui da migração dos formatos, da lógica, da reconfiguração e não do aniquilamento de formas anteriores. Não é transposição e não é aniquilação. Estamos mais uma vez diante da liberação do pólo da emissão, do surgimento de uma comunicação bidirecional sem controle de conteúdo. E novos instrumentos surgem a cada dia…” [3] e, por sua vez, relaciona-a com a cibercultura. Uma coisa é certa, para estes autores já vivemos na cibercultura e na cultura da convergência.

Sem comentários:

Enviar um comentário