Figura 1 Joan Crawford no filme Letty Lynton , 1932, USA, dirigido por Clarence Brown
O novo homem das massas ambicionava transformar a vida num espetáculo, em entretimento e prazer visual [1]. O cinema veio satisfazer esse desejo, e como ele tudo mudou, até a moda.
A moda é um fenómeno inseparável do nascimento e do desenvolvimento do mundo ocidental [4]. Ao mesmo tempo que a cultura das massas se começa a desenvolver, o interesse pelos assuntos relacionados com moda proliferam-se entre revistas da especialidade e escritores da época [4].
Na mesma época surgem duas novas indústrias: a alta-costura e a confeção industrial. Com a alta-costura, o costureiro tornar-se no novo “gênio artístico moderno” e é acompanhado por uma extraordinária promoção social [4].
O cinema colaborou para este fenómeno, em especial o cinema de Hollywood, preferido pelas massas, optava por criar uma arte dirigida aos espectadores, poupando-os a grandes interpretações e fornecendo-lhes um atalho para usufruírem do prazer estético [3].
As estrelas cinematográficas eram sedutoras, belas e vestidas com glamour, determinavam um estilo e criavam seguidores. O cinema abrira à moda um vasto campo de ação, nas estrelas a moda brilhava em todo o seu esplendor, a roupa ganhava mais visibilidade e os costureiros mais fama e por sua vez a moda contribuía também para os êxitos de bilheteira [5].
A obra escolhida é exemplo desta relação entre a moda, o cinema e a cultura de massas Gilbert Adrian (1903-1959) criou o guarda-roupa para a atriz Joan Crawford no filme Letty Lynton (1932), disfarçando os desfeitos da atriz e acentuando a sua sensualidade. Após a estreia do filme foram vendidas milhares de peças de roupa iguais, foram copiados vestidos por toda a América e usados por mulheres que ambicionavam uma carreira com a da estrela do filme [5].
Já Adorno referira-se à criação de condições favoráveis à implementação do comércio por parte da indústria cultural [2], e também Lipovetsky acrescentara que mais do que qualquer outra, as indústrias culturais contribuem recorrem à moda, à publicidade e a diferentes formas de sedução e promoção [4].
O cinema tem a capacidade de levar as massas a sonhar, e por vezes a ambicionar, as vidas contadas na tela, e este fator não é desaproveitado numa sociedade de consumo. Contudo não podemos deixar de reconhecer a arte do cinema e a excelência do trabalho desenvolvido pelos criadores de moda e figurinistas.
Referências:
[1] Tavares, Miriam (2010), “Compreender el cine: las vanguardas y la construcción del texto fílmico”, Revista comunicar. Revista científica de educomunicación, nº 35, v. XVIII, ISSN: 1134-3478, pp. 43-71
[2] Costa, Alda C. S. da; Palheta, Arlenta, N. A. A.; Mendes, Ana Maria P.; Loureiro, Ari de Sousa (2003), “Indústria cultural: Revisando Adorno e Horkheimer”, Movendo Ideias, v. 8, n. 13, Junho 2003, pp. 13-22
[3] Greenberg, Clement (1939), “ Vanguarda e Kitsch”, tradução de Maria Luísa de A. Borges, Clement Greenberg, “Avant-Gard and Kitsch”, Ferreira, Glória; Mello, Cecília Cotrim de (Org.) (1997), Clement Greenberg e o debate crítico, Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Funarte, Jorge Zahar Editor, pp. 27-43, ISBN: 85-85781-31-9, disponível em http://pt.scribd.com/doc/190103298/clement-greenberg-e-o-debate-critico , acedido a 16 de Janeiro de 2014 às 23:55
[4] Lipovetsky, Gilles (1987), O império do efémero, Lisboa: Publicações D. Quixote, ISBN: 972-20-0695-9
[5] Seeling, Charlotte (1999), “Cinema e moda”, Moda. O século dos estilistas. 1900-1999, tradução de Letrário (edição portuguesa 2000), Colónia: Könemann, ISSN: 3-8290-5900-0, pp. 182-193.
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