A criação de arte digital: o elogio da imaterialidade ou a magia das inúmeras materialidades do digital

Esta reflexão parte da comum pergunta "o digital não é real? É uma obra sem material...isso é trabalho?". A criação artística digital não tem que ser obrigatoriamente algo imaterial. O material tangível está sempre presente, desde o processo de criação à exibição da obra. O computador, com todo o seu hardware, e todo o seu equipamento associado é material. O smartphone, tablet, pc onde o público irá ter contacto com a obra é material. O projetor de vídeo, as colunas de som, os sensores, os óculos de RV usados na exibição da obra são materiais.

Se tivermos em conta que o "digital" está presente em quase todas as áreas da nossa vida , é fácil percebermos que na criação artística não seria diferente. Escrevemos, fotografamos, conversamos, filmámos, jogamos, assistimos digitalmente. Tal como acontece no nosso quotidiano, a tecnologia digital está também presente na criação artística sem que isso a remeta para a "imaterialidade". As obras criadas pelo artista através de aplicações/softwares pode ser impressa em diferentes materiais, tangíveis ou virtuais, construídos, interpretados e rematerializados, isto é, podem ganhar "corpo" em diversos materiais e suportes. O digital pode estar presente apenas numa (ou mais) fase de criação.



O encanto da criação em arte digital é a (quase) ausência de limites característicos da realidade tangível (não há força da gravidade, podemos criar cenários extravagantes ou mundos inteiros, universos de sonhos sem orçamentos exorbitantes, atravessar paredes ou viajar sem sair do lugar) onde (praticamente) tudo é possivel criar, livre das limitações do corpo humano e dos suportes tangíveis, começar e recomeçar vezes sem fim.

É a magia de um suporte onde tudo é possivel, onde as limitações do material (tecnológico)estão constantemente a se superarem, onde o público pode ser o mundo inteiro ou apenas um nicho restrito. O artista não é o génio isolado, mas o artista multifacetado que se supera em equipas transdisciplinares, sem limites geográficas, que colabora e interage em obras de outros artistas. Visita e expõe sem fronteiras, reinventa a exposição e a fruição da sua obra.

Na obra de arte digital acentua-se o carácter de obra aberta, colaborativa, mutativa, generativa, que tem ao seu dispor várias interpretações, vários corpos, matérias, formatos. É o (super) poder de criar "tudo": o real, o sonho, a ficção, a fantasia e a ciência... ou simplesmente não criar nada.

A magia da criação de arte digital, para mim, é o poder de poder criar tudo ou nada numa duração efemera (ou não) e, muitas vezes, indefinida.

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